De acordo com dados da a Secretaria Estadual de Saúde (Sespa), a transferência de pacientes com suspeita de Covid-19 demora cerca de 27 horas para ser realizada da rede municipal para os hospitais pública do Estado. Essa transferência é de responsabilidade da prefeitura de Belém, que precisa solicitar ao governo a liberação de um leito em algum hospital de referência. Em contrapartida, o governo do estado leva apenas 10 horas em média para liberar o leito solicitado.
Antes dos primeiros casos registrados de Covid-19 em Belém, o sistema de regulação de leitos demorava cerca de 16 horas para efetivar todo o processo. O governo então criou um novo sistema que agilizou a liberação, reduzindo essa espera para menos de oito horas. No entanto, a grande demanda por leitos aumentou o tempo, que em média agora corresponde a 10 horas de espera.
Ainda de acordo com a secretaria, o atual tempo médio para transferência de pacientes é considerado “excessivamente alto para a gravidade dos casos”.
O pastor Tamilton Martins, 51 anos, morreu no último dia 2 de maio, esperando a transferência para um leito de tratamento. Após contrair doença respiratória aguda como consequência de Covid-19, de acordo com atestado de óbito emitido pela prefeitura. Ele foi internado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Icoaraci no dia 21 abril, segundo a família.
O filho dele Samuel, de 20 anos, conta, no entanto, que a família nunca recebeu resultado de teste e que, antes do óbito, a UPA teria sido informada, no dia 29 de abril, que o paciente estava na fila por um leito no hospital de campanha, montado no complexo Hangar, segundo documento que conseguiu com a equipe da unidade de saúde.
“Fiquei sem contato com meu pai antes de ele morrer. Eles não entregavam as roupas que a gente deixava lá para ele se trocar. Até conseguimos mandar carta com ajuda de um profissional da limpeza, mas não sabemos se ele leu antes de nos deixar. Eu e toda minha família ficamos várias madrugadas, dias, na porta da UPA, e não nos informavam nada. Até hoje não sabemos o resultado do teste e a sensação que ficou foi a de que não podíamos fazer nada diante disso tudo”, afirmou.
O caso circulou pela internet por meio de um vídeo gravado por Samuel na porta da UPA. No relato, ele diz que a unidade teve um dia para dar resposta pelo sistema e transportar o paciente, mas a demora fez com que ele perdesse a vaga. A prefeitura alega que houve erro de interpretação do histórico de regulação.
O serviço funerário foi pago com a ajuda de arrecadação feita por membros da igreja em que Tamilton Martins atuava. O sepultamento ocorreu em um cemitério particular, onde a prefeitura começou a adquirir covas, no bairro do Tapanã.
Fonte: G1 Pará