Povos indígenas fazem oposição a Jair Bolsonaro

Povos indígenas fazem oposição a Jair Bolsonaro

Os povos indígenas do Brasil começam a se movimentar e fazer intensa oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro. Sonia Guajará, uma líder indígena brasileira, está no fronte de choque na luta contra a mudança climática, algo que é atribuído diretamente ao desmatamento da floresta amazônica.

A floresta amazônica, um tesouro ambiental de mais de cinco milhões de quilômetros quadrados que se estende por todo o norte do Brasil e por mais oito países, é também chamada de “o pulmão do planeta” porque as árvores emanam oxigênio e absorvem  muito dióxido de carbono, mitigando os efeitos da mudança climática. Ela também abriga uma diversidade inigualável de espécies vegetais e animais, além de cerca de um milhão de indígenas somente no Brasil.

Embora a floresta há muito tempo esteja em risco, ela se encontra sob uma ameaça maior agora, na presidência de Jair Bolsonaro, um líder populista nos moldes do presidente Donald J. Trump que polarizou o país.

Bolsonaro tratou rapidamente de solapar as proteções do meio ambiente, o direito à terra dos povos indígenas e as organizações ambientais. “Nos  primeiros 50 dias do governo Bolsonaro, voltamos atrás 30 anos em termos de progresso”, afirmou Sônia. “Agora tentamos manter de pé tudo o que procuramos construir, procuramos edificar desde então”.

O seu trabalho com a Associação dos Povos Indígenas do Brasil concentra-se na garantia dos direitos destes povos, inclusive a reivindicação de suas terras ancestrais na floresta. O Brasil perdeu cerca de 10% de sua cobertura vegetal entre 2000 e 2017, segundo o Instituto dos Recursos Mundiais. Agora, Bolsonaro intensifica ainda mais o nível das ameaças ao incentivar os investimentos econômicos para a exploração dos recursos naturais do país.

Desde a sua posse, Bolsonaro enfraqueceu ou privou de recursos as agências governamentais que supervisionam a proteção da Amazônia e dos povos indígenas, entregando ao Ministério da Agricultura a responsabilidade de gerir as áreas de cultivo, mineração e desmatamento. As áreas formalmente reconhecidas como “terras coletivas” são de propriedade do governo, mas garantidas pela Constituição para uso exclusivo dos grupos indígenas. Mas Bolsonaro quer que estas terras sejam “mais produtivas”.

Sônia disse que isto significaria o início do fim das culturas indígenas. “Para mim, é um tipo de etnocídio”, comparou. “Etnocídio é quando você mata a cultura. O genocídio é quando você mata o povo”.

Líderes mais experientes que Bolsonaro procurariam expandir o desenvolvimento econômico respeitando ao mesmo tempo as tribos indígenas, reconhecendo as contribuições insubstituíveis da Amazônia para deter a mudança climática. As pesquisas mostram que as comunidades indígenas são as melhores guardiãs da terra.

Segundo a líder, Bolsonaro afirma que “não existem povos indígenas”, e insiste que quer “unificar a nós todos em uma só cultura”. Isto é ofensivo e irreal, considerando que no Brasil há mais de 300 grupos étnicos, incluindo talvez 100 que não tiveram contato com nenhuma sociedade, e cerca de 274 línguas.

A eleição de Bolsonaro parece deixar claro o que poderá se perder com as suas políticas e convencendo os grupos marginalizados – os pobres, as mulheres, as crianças, os povos indígenas – a se unirem em torno de uma causa comum.

Se há alguma esperança para a floresta amazônica, e para os países em que o autoritarismo ameaça a democracia e as agendas progressistas, ela está na determinação e no poder de ativistas da sociedade civil.

Como Sônia Guajajara.

Fonte: Folha de SP

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