O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pode significar a mudança de vida de vários detentos que se inscrevem e participam da prova. No Pará, internos do sistema penitenciário conquistaram as maiores pontuações do Brasil na redação, na categoria para Pessoas Privadas de Liberdade (Enem/PPL).
De acordo com dados da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), dos 1.457 inscritos no certame, 859 participaram das duas etapas, aplicadas nos dias 10 e 11 de dezembro de 2019, em 43 unidades prisionais do Estado. Desses, 95 custodiados alcançaram a nota média necessária para disputar vagas em Instituições de Ensino Superior (IESs), conforme informações divulgadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Dois internos do Centro de Recuperação Mariano Antunes (Crama), localizado no município de Marabá, sudeste do Pará, alcançaram mais 900 pontos na redação. Ubiratan Ramos de Carvalho alcançou 920 pontos na redação e pretende cursar Direito. Já Rodrigo de Oliveira Jadjiski obteve 900 pontos. Ele, que ocupa a monitoria da Biblioteca do Crama, pretende cursar Medicina.
A pontuação dos dois internos não é um acaso. Os dois fazem parte do Projeto “Leitura que liberta”, desenvolvido pela Coordenadoria de Educação Prisional (CEP) e promovido pela Diretoria de Reinserção Social da Seap. A iniciativa tem o objetivo de promover aumento do nível educacional dos internos através da leitura.
Ubiratan Ramos de Carvalho concluiu o ensino médio no Crama. Segundo ele, a aprovação significa o primeiro dia da sua nova vida, possibilitado pelo investimento do Governo do Estado na ressocialização dos internos. “Uma cadeia sem leitura é apenas punição; mas uma cadeia com leitura é uma transformação, que possibilita ao homem dar a volta por cima. Se a educação custa caro, imagine o preço da ignorância”, acentuou.
Superando desafios – O resultado alcançado pelos internos do Centro de Recuperação Agrícola Silvio Hall de Moura (CRASHM), em Santarém, no oeste do Estado, também foi positivo. Dentre os 58 candidatos que realizaram a prova, 25 alcançaram a nota necessária para aprovação. O resultado comprova a importância da educação no desenvolvimento dos internos, que apesar das dificuldades do cárcere atingiram média superior a 450 pontos.
De acordo com o diretor de Reinserção Social da Seap, Belchior Machado, a educação é a ferramenta necessária para a mudança. “A aprovação e a consequente realização de um curso superior abrem portas e afastam os sujeitos que hoje estão na condição de encarcerados da criminalidade. Por isso acreditamos que a educação é a ferramenta fundamental para a ressocialização social”, frisou.
A Seap investiu na preparação dos internos com a aplicação de simulados, distribuição de apostilas e promoção de aulas com professores da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), garantindo que todos tenham condições e requisitos necessários para ter êxito nas provas.
Fonte: Agência Pará