Os frequentes alagamentos em Belém vêm causando problemas para a população desde o último sábado (7), com vias completamente intrafegáveis, casas inundadas, e trânsito congestionado. O prefeito Zenaldo Coutinho já decretou estado de emergência para a cidade e tem explicado que todos os esforços para resolver o problema estão sendo realizados, ressaltando ainda que todo o problema é causado pela força da natureza.
No entanto, para especialistas da área do planejamento urbano, os alagamentos em Belém não são causados apenas pelas chuvas e maré alta. Diversos dados mostram que outras soluções e obras preventivas poderiam ser pensadas pela administração pública para antecipar o problema que acontece todos os anos no município.
Entre as diversas providências que a prefeitura poderia ter tomado, estão as chamadas “medidas não estruturais”, que focam na realização de obras mais sustentáveis para os padrões de canais de drenagem, criação de “infraestruturas verdes”; ampliação da arborização urbana; educação ambiental e utilização de bacias hidrográficas como unidade de planejamento territorial.
Segundo estudos científicos, a ausência de investimentos nessas medidas “verdes” contribui para que o histórico de alagamentos continue, por décadas, marcando o cotidiano de grandes cidades, como Belém, e trazendo prejuízos para a população, principalmente, a mais pobre.
Muitas dessas pesquisas utilizam dados da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), veja nos mapas ao final, que apontam o nível de risco de alagamentos nos bairros. Em paralelo, nas áreas de maior risco de Belém são onde vivem a população de menor renda, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Outro fator agravante é a baixa cobertura vegetal da cidade, contribuindo para que a água não fique retida no solo, desaguando nas áreas mais baixas, onde também vivem as pessoas mais pobres.
Em Belém, estas mesmas áreas de maior risco ficam alagadas no mesmo período do ano – aproximadamente 44% do território. Uma delas é o entorno do cartão-postal da cidade: o Mercado do Ver-o-Peso, que foi até palco de protesto de canoeiros. A maioria, no entanto, é na periferia.
“Há uma tendência muito grande de atribuir o problema somente a fatores naturais. É um discurso padronizado, dito no mundo todo, que faz parecer que não tem nada a ver com os administradores públicos. É dito que há investimentos, mas não tem nada a ver com investimentos em saneamento e infraestrutura para a periferia, que é onde as pessoas mais sofrem”, afirma Juliano Ximenes, arquiteto, urbanista e professor na Universidade Federal do Pará (UFPA).
Para o pesquisador, a situação não é apenas tecnológica, ambiental ou urbanística, mas também política. “Infelizmente, ocorre este fenômeno mundial de políticos conservadores não chamarem a atenção para o problema da desigualdade, pois nos alagamentos, por exemplo, quem morre, quem perde geladeira, sofá, documentos, é o pobre. São as áreas sem infraestrutura, as ruas mal pavimentadas que alagam, complicando até a saúde dessas pessoas. Por isso, a desigualdade é um problema sério em um país como o Brasil”, explica.
Fonte: G1 Pará