O país El Salvador, situado na América Central, decidiu nesta última terça-feira (7) que o Bitcoin passa a ser uma moeda oficial dentro de seu território, assim como o dólar, que já é utilizado há 20 anos.
Usuários na internet já discutem em como a decisão irá impactar a moeda. Compras em massa equivalente em bitcoin a US$ 30 já estão sendo pensadas para marcar a entrada da moeda no país.
O potencial de compras coordenadas ecoa campanhas online como a que levou à disparada de preços da GameStop no começo deste ano.
Aparentemente, investidores no Brasil e no mundo todo estão planejando converter o equivalente em suas moedas locais a US$ 30 em bitcoin nesta terça-feira para comemorar a legislação que adota legalmente a criptomoeda de código aberto e descentralizada.
Caixa automático com proteção do exército
El Salvador começou a instalar caixas automáticos de bitcoin para permitir que os cidadãos convertam o token em dólares, alguns protegidos pelo exército para evitar possíveis depredações. Além disso, o governo criou um fundo de US$ 150 milhões para apoiar conversões de bitcoins para dólares.
Os salvadorenhos poderão fazer o download da carteira digital “Chivo” do governo, inserir seu número de identidade e receber US$ 30 em bitcoins, informou o ministro das Finanças de El Salvador, Alejandro Zelaya, à imprensa local no mês passado. A carteira é necessária para fazer compras e vendas em bitcoins.
O bitcoin operou em alta nesta segunda-feira (6), subindo para quase US$ 52 mil, para alcançar o maior patamar desde maio. Nesta terça, no entanto, a criptomoeda perde valor e chega a US$ 50.087, caindo quase 5%.
A entrada em vigor da moeda digital como oficial no país tem sido recebida com forte ceticismo e advertências de economistas e organizações financeiras internacionais.
Salvadorenhos preferem dólar
O governo de Nayib Bukele garante que a medida polêmica contribuirá para a bancarização da população e evitará uma perda de US$ 400 milhões nas remessas que os salvadorenhos enviam do exterior e que representam 22% do PIB, embora alguns especialistas questionem.
Em El Salvador, que dolarizou sua economia há duas décadas, a maioria dos 6,5 milhões de salvadorenhos rejeita o bitcoin promovido por Bukele e prefere continuar usando o dólar, segundo as últimas pesquisas.
“Esse bitcoin é uma moeda que não existe, é uma moeda que não vai favorecer os pobres e sim os ricos, porque o pobre, que mal tem pra comer, não pode investir”, comentou à AFP José Santos Melara, veterano da guerra civil (1980-1992) que na sexta-feira participou de um protesto contra a criptomoeda.
Sete em cada dez salvadorenhos indicaram que “discordam ou discordam veementemente” do bitcoin, que circulará ao lado do dólar, apontou uma pesquisa recente da Universidade Centro-Americana (UCA), que consultou 1.281 pessoas em meados de agosto.
Dos mais de 1.500 consultados em outra pesquisa do jornal La Prensa Gráfica, 65,7% disseram que desaprovam a criptomoeda.
A diretora do Instituto de Opinião Pública da UCA, Laura Andrade, garante que a população resiste ao bitcoin por não considerá-lo uma forma de melhorar sua situação econômica.
“São decisões sem consulta que este governo têm tomado em conjunto com os legisladores, e que as pessoas não percebem um impacto positivo para transformar significativamente suas condições de vida”, apontou Andrade à AFP.
Por lei, o bitcoin terá “poder libertário ilimitado em qualquer transação”.
A lei estabelece que o câmbio entre o bitcoin e o dólar “será livremente estabelecido pelo mercado” e obriga “a aceitar o bitcoin como forma de pagamento”.
Economistas e organizações como o Banco Mundial, o FMI e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) são céticos quanto à adoção do bitcoin como moeda ao lado do dólar.
Terá um “impacto negativo” nas condições de vida da população dada a “alta volatilidade da cotação” e “afetará os preços de bens e serviços”, afirma o economista Óscar Cabrera, da Universidade de El Salvador.
O fato de ser determinado “exclusivamente pelo mercado” torna o bitcoin “altamente volátil”, alertou a Fundação Salvadorenha para o Desenvolvimento Econômico e Social (Fusades).
A Fundação também considera “inconstitucional” impor “a aceitação obrigatória do bitcoin como forma de pagamento quando oferecido” em qualquer transação econômica.