A Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) está participando através de uma parceria com pesquisadores da Universidade da Califórnia, em San Diego, nos Estados Unidos, de estudos voltados para ajudar pessoas paraplégicas e tetraplégicas a voltarem a andar.
A pesquisa dos americanos começou a ser desenvolvida há 8 anos, estudando o transplante de células-tronco neurais. A partir de 2021 a Ufopa irá ajudar na ampliação de resultados das pesquisas feitas.
A técnica utilizada pelos pesquisadores nos estudos pré-clínicos é conhecida como “relé neural”. Esta técnica foi desenvolvida pelo pesquisador Paul Lu, na Universidade da Califórnia em San Diego (USCD), que sofreu um acidente automobilístico e ficou paraplégico. A partir disso, o sonho do cientista é voltar a andar e beneficiar também quem sofre da mesma deficiência.
O sonho do pesquisador Paul Lu é o mesmo do paratleta paraense Cleyton Bentes, 38 anos, que nasceu em Belém e mora em Ananindeua, ambos na Região Metropolitana. Quando era bailarino em uma banda, Bentes viajava para fazer show e sofreu acidente automobilístico, no Mato Grosso, há 11 anos. O acidente deixou como consequência uma lesão na vértebra do paratleta e paralisou as pernas dele.
“Desde que sofri o acidente, eu e as pessoas que sonham comigo não sonhamos que eu estou na cadeira de rodas. Nos sonhos eu sempre estou andando como antes. Consegui minha independência aos 28 anos, mas até hoje sonho em andar de novo. Fiz fisioterapias, faço esporte e recuperei pelo menos 10% da minha sensibilidade. Mas eu creio muito em Deus e sei que no momento certo ele vai fazer os cientistas descobrirem uma solução para fazer as pessoas voltarem a andar. Eu vivo nessa expectativa e tenho muita fé de que um dia terá a descoberta e vai beneficiar a todas as pessoas que vivem nessa condição e vamos voltar a andar com nossas próprias pernas”, afirma o paratleta, que faz graduação em Educação Física.
No Pará, o pesquisador a frente desta parceria é o pós-doutor em Neurogênese adulto, Walace Gomes, que atua com a USCD desde 2015, quando cursou pós-doutorado, na Califórnia ele esclarece que o “relé neural” é um novo circuito que reconecta a medula espinhal após a lesão.
Quando a pessoa tem uma lesão na medula espinhal fica uma cavidade e os axônios, que são pequenos cabos biológicos que transmitem informação neural, são vencidos, não crescem. Então, o ‘relé neural’ é quando é feito o enxerto de células-troncos, na verdade, progenitores neurais dentro da lesão para preencher a lesão. Elas estão dentro de um arcabouço de fibrinas. Então, os novos neurônios crescem – formados a partir das células pluripontentes induzidas (o experimento) – e geram novos axônios”.
As pesquisas são feitas em ratos e macacos. No Pará, será realizada na cutia. Futuramente, ocorrerá com humanos
Assim, estes (axônios) vão fazer novas sinapses e também vão ser conectados pelos neurônios dos animais (macacos e ratos) e, futuramente, em humanos. “E isso fecha um novo circuito, chamado de ‘relé neural’, que se coloca na área da lesão para reconectar a medula espinhal. Esse novo circuito é formado por novos neurônios, formados a partir das células-tronco transplantadas ou das pluripontentes induzidas transplantadas”, explica Gomes.
Ele destaca que, na Ufopa, o experimento da técnica do “relé neural”, com medula espinhal, irá inovar, pois será feito com a cutia, que é um roedor amazônico com a medula grande e do tamanho de um macaco prego.
“A cutia, assim como o humano, manipula alimentos com as patas anteriores usando a região cervical da medula. Depois, vamos passar para o macaco prego. Vamos testar e enviar esses dados aos americanos. Nos Estados Unidos eles precisam de mais testes de transplantes em medulas grandes, antes de fazerem em humanos, com a previsão para ocorrer com estes nos próximos quatro ou seis anos. Já fizeram com ratos e macacos e os resultados obtém avanços, desde 2012”, explica Walace Gomes, que é biomédico, mestre em Neurociências e doutor em Neuropatologia Experimental.
Já a originalidade no Pará, com a coordenação de Walace, é implementar o que os americanos desenvolveram na técnica o “relé neural” na medula nos experimentos de Acidente Vascular Cerebral (AVC), que serão feitos com ratos e macacos. E a ideia da pesquisa é fazer, futuramente, em humanos, isto é, pessoas que têm AVC.
“Vamos tentar conseguir substituir os neurônios que morreram pelos novos neurônios transplantados nas fibrinas, vamos transplantar também as pluripotentes induzidas criadas pelo Shinya Hymanaka, médico japonês e pesquisador de células-tronco adultas. Minha perspectiva é desenvolver uma terapia celular e farmacológica minimizando a lesão de AVC e traumas, que ainda não têm terapias aprovadas”, afirma o pesquisador Gomes, que trabalhou no Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará (UFPA), há 20 anos.
Outra finalidade é colocar o Pará em destaque no mapa da neurociência nacional e internacional
Com isso, um dos maiores objetivos do pesquisador, além de querer ajudar as pessoas a voltarem a andar, é incluir hospitais do Pará dentro do estudo de multicentros para testar as terapias com “relé neural” em humanos (pessoas paraplégicas e tetraplégicas) e em vários hospitais e países do mundo. Além disso, colocar o Pará, a Ufopa e a UFPA no mapa da neurociência nacional e internacional.
Na Ufopa, após um ano, as pesquisas já podem apresentar resultados. Mas devem ser concluídas em até três anos. Para isso, o pesquisador já conta com R$ 1,4 milhão garantido junto a uma fundação de pesquisa em parceria com a Ufopa. As pesquisas estão inscritas também em edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) concorrendo à obtenção de mais de R$ 1 milhão.
Além das pesquisas, “O relé neural (célula tronco) para trauma da medula espinhal” e “O relé neural para AVC experimental”, os recursos serão aplicados para desenvolver na Ufopa a pesquisa “Fitoterápico para AVC e Trauma”, mais uma coordenada pelo professor e pesquisador Walace Gomes.
Fonte: Oliberal